No fim dos anos setenta, em plena ditadura militar, cursava química industrial na Universidade Federal da Bahia, nesta época conheci grandes amigos, no velho Instituto de Química, a maioria deles atuantes no movimento estudantil, este envolvimento me levou a participar destas lutas também, inicialmente na Associação Atlética dos Cursos de Química ocupando o cargo de presidente e depois no próprio Diretório Acadêmico como um dos secretários, era um período de grandes discussões, de sonhos e reconstruções que complementou-se com a da UNE, materializada no grande congresso acontecido no recém construído Centro de Convenções da Bahia.
Eram tempos difíceis, de muita repressão, cheguei a provar o ardor das bombas de gás duas vezes, numa manifestação diante da reitoria e outra quando da caminhada de Ulisses Guimarães e outros políticos, da Praça da Sé ao Campo Grande, onde os militares e seus cachorros nos deixaram detidos na antiga sede do MDB, eu, minha irmã e alguns nomes que hoje se firmaram na política, ficamos apreensivos até sermos liberados, dois a dois, através de negociações com promessa de não perseguição. Nesta época os nossos desejos por um governo democrático de esquerda era muito grande.
Os novos tempos chegavam, a abertura política acontecia no país, em caravanas íamos ao aeroporto, esperar por exilados que voltavam ao país, lembro-me que numa destas idas, vigiados pela polícia federal, fomos receber Diógenes Alves de Arruda , membro do Partido Comunista do Brasil, era outubro de 1979, no mês seguinte tivemos a triste notícia do seu falecimento.
Deixei a UFBa, sumi do movimento, comecei a trabalhar. Tancredo Neves nos deixava esperançosos por grandes mudanças porém foi o Sarney que assumiu o governo. Tivemos que adiar por mais tempo esta vitória.
Através da primeira candidatura de Lula, voltamos as ruas novamente, fizemos panfletagem, convencemos pessoas, porém fomos surpreendidos com a derrota nas urnas, Collor com seu desempenho na mídia venceu as eleições, mas logo foi retirado do poder pela própria mídia que o elegeu.
No ano de 1994, a esperança voltou, mas ainda assim, fomos derrotados por Fernando Henrique, misto de vendedor e presidente, que ficou no poder durante oito anos, até que em 2002, candidato pela terceira vez, Luís Inácio Lula da Silva, obteve uma grande vitória, o Rio Vermelho ficou pequeno para tanta alegria, lá encontrei os velhos amigos, já um pouco envelhecidos, muitos de cabelos brancos comemorando a realização de um grande sonho, Albertinos, Menandros, Eduardos, Bernadetes e Geovás, todos emocionados e felizes.
Lula assumiu o governo e logo mostrou para o que veio. Entre escândalos e denuncias, percebemos que as coisas não são como havíamos imaginado, a esquerda já não é mais a mesma, nossos ídolos, nunca mais foram os mesmos, os companheiros já não lutam mais pela igualdade e sim pelos cargos e pelos Tucsons, os ideais, estes ficaram nas atas, nas mesas, nos panfletos e nos muros do nosso passado. Os nossos repressores agora fazem acordos e ocupam cargos, que são ofertados pelos governantes como se fosse uma “galinha gorda” enquanto isto somos apelidados de órfãos da esquerda e chamados de românticos, porém na minha luta diária para criar os meus filhos, não tenho mais o mesmo fervor da juventude, mas continuo dormindo tranqüilo e sonhando.