domingo, 6 de setembro de 2009

PASSAR A VIDA EM ITAPUÃ


Itapuã na década de 70


Muito mais do que uma tarde, tenho vivido muitos anos aqui em Itapuã, um bairro que mais parece uma daquelas cidades praieiras do interior. Apesar de ter nascido a beira de um rio, o velho Paraguaçu, me acostumei a dormir ouvindo o som do mar quebrando na praia, o vento balançando as palhas dos coquerais e o cheiro perfumado das algas.
A cerca de 20 anos escolhi este local para morar, encontrei amigos e passei a fazer parte da comunidade. Aqui me sinto seguro e na maioria das vezes feliz.
O Princípado, como chamamos nosso bairro, tem características próprias, "tuas casas feias"
mostram uma estética diferente, aqui, separados pelos muros, vidros dos carros e olhares, existem todas as classes sociais e trabalhadores das mais variadas atividades, pescadores, vendedores, empresários e professores.
A violência também faz parte daqui, há assaltos, roubos e as mais variadas formas de agressão, os sons altos, a bebedeira, fruto de uma sociedade sem limites. Mas a solidariedade, as amizades, o companheirismo, a simpatia, os sorrisos são características da grande maioria dos moradores.

Nos últimos anos fomos invadidos, por uma outra forma de violência, a febre imobiliária, principalmente das classes mais abastadas que expulsam, com os seus condomínios, de quase luxo, os antigos moradores da beira da praia, como se o direito, a ela, fosse apenas dos que detém o poder econômico. Outra invasão é dos estrangeiros, que compram grandes casas e montam negócios escusos e voltam para seus países de origem faturando com os altos aluguéis, inflacionando todos os imóveis do bairro.
Fico feliz, quando num domingo, ou feriado, toda a população pobre, desce dos ônibus e vans, invadindo as praias, se distribuindo pelas ruas j, k, l, todo o alfabeto, curtindo cada momento a sua principal diversão, até que no fim da tarde, sentem a preguiça no corpo, se espojam num esteira de palha e desejam um água de coco.
Admiro muito meu bairro, não pelas grandes mansões que são construídas, pelos hotéis e condomínios de luxo que são inaugurados e sim por esta gente simples e trabalhadora que abandonadas pelo poder público fazem daqui um bairro alegre e gostoso de viver. Tem coisa melhor que num fim de tarde comer um acarajé em Cira, beber um refrigerante bem gelado na barraca de Baleia, cortar o cabelo, acompanhado de um bom papo, na barbearia de Salvador, ou sentar, com meu filho, nas areias da Pedra do Sal sentindo a brisa e ouvindo o mar.
As vezes abro uma garrafa de vinho e deitado, na rede da minha varanda, durmo e sonho nos braços da lua. Mas logo é manhã me visto e saio para ir trabalhar em Salvador, porém meu pensamento é a volta para minha casa, meus filhos, minha família e a vida em Itapuã.

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